26 de fevereiro de 2016

Contra o Esvaziamento dos Organismos de Políticas Públicas para as Mulheres



A Secretaria da Mulher de Pernambuco, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Pernambuco (CEDIM-PE) e os Fóruns de Gestoras de Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres de Pernambuco, que congregam cento e setenta e seis municípios, vêm a público, mais uma vez, se posicionar contra as tentativas recorrentes de esvaziamento dos organismos responsáveis pela execução das políticas públicas para as mulheres, o que compromete a efetivação dos direitos das populações femininas, levando o Brasil a andar na contramão da construção de um país mais justo e igualitário.
A instituição de organismos governamentais de políticas para as mulheres além de ser inovadora do ponto de vista da democratização do estado brasileiro é o resultado da terceira onda do movimento feminista - chamada de Feminismo de Governo -, protagonista da institucionalização das demandas das mulheres no aparelho do Estado, o que representa a mudança do “estágio de denúncias” para o “estágio de ações propositivas” de políticas públicas de gênero.
Portanto, a criação desses Organismos no Brasil é uma conquista de um longo e árduo processo de luta do Movimento Feminista e de Mulheres, o que torna pertinente a permanência dessas institucionalidades no aparelho do estado para garantir o desenvolvimento de ações afirmativas capazes de reparar as históricas desigualdades entre homens e mulheres.
Nesse contexto, surgem as primeiras instâncias que permitiram a inclusão da perspectiva de gênero na gestão governamental, com a criação de diversos órgãos de gestão de políticas públicas para mulheres nas três esferas do governo, a exemplo da Secretaria Nacional de Políticas Públicas para Mulheres, criada em 2003, da Secretaria da Mulher de Pernambuco, criada em 2007 e em diversos estados e municípios.
Mesmo assim, sob forte resistência do movimento feminista e de mulheres, especialmente no estado de Pernambuco, após mais de uma década de execução de políticas públicas para as mulheres no Brasil, tivemos nossa primeira grande perda, com o rebaixamento da Secretaria Nacional de Políticas Públicas para Mulheres para Secretaria Executiva de um frágil Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos por meio do frágil argumento de enxugamento de despesas, uma vez que todas nós sabemos da insuficiência crônica de seus respectivos orçamentos, estruturas e corpo técnico.
O fato é que, desde então em nome da economicidade, essas instâncias passam por um processo contínuo de esfacelamento, desmonte, fusão com outros órgãos ou simples extinção, configurando-se em um retrocesso nos avanços da promoção da igualdade de gênero, o que na prática, reflete a severa violação dos direitos das mulheres em um país signatário de acordos internacionais pró-empoderamento e ter promulgado legislações específicas e avançadas como a Lei Maria da Penha e a recente Lei do Feminicídio, para o enfrentamento da violência de gênero.
É preciso não perder de vista que esses organismos representam o compromisso do Estado Brasileiro, e não de um partido ou de um governo, com a efetivação dos direitos das mulheres. Portanto, o rebaixamento da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, com a perda de sua autonomia enquanto Ministério e a recente retirada da expressão “perspectiva de gênero” das atribuições do então Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos são inaceitáveis.
Excluir a perspectiva de gênero das políticas públicas para as mulheres, conceito amplamente estudado, tipifica a discriminação e violação dos direitos de meninas e mulheres e significa aprofundar a exclusão de mais da metade da população brasileira.
Não podemos aceitar nem permitir que se instale em nosso país o retrocesso imposto por forças conservadoras que ameaçam os direitos das mulheres, à inclusão das pessoas, à igualdade, à justiça e, portanto, à democracia.

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