Exma. Sra. Presidenta da República
Dilma Rousseff
A
instituição de Organismos de Políticas Públicas para as Mulheres pelo
Poder Executivo é uma proposta dos movimentos feministas e de mulheres
que resistiram à ditadura, lutaram e lutam por um estado democrático que
garanta a inclusão dos direitos das populações femininas em nosso país.
Por este motivo, não podemos, não devemos e não vamos renunciar, em
nenhuma hipótese, a esta estratégia de inclusão da causa das mulheres
nos Poderes da República, necessária para transformar o Estado
Brasileiro
.
Um país signatário de
acordos internacionais voltados para o empoderamento das mulheres e que
possui uma legislação avançada como a Lei Maria da Penha e a Lei do
Feminicídio, não pode abdicar de um instrumento político necessário à
construção da igualdade entre homens e mulheres.
É
preciso não perder de vista que esses organismos representam o
compromisso do Estado Brasileiro, e não de um governo, com a reparação
das desigualdades entre homens e mulheres, da mesma forma que sua
quebra, representa o enfraquecimento extremo do governo que a propõe e
executa.
Presidenta, querer brecar a
função política e social das ações afirmativas em favor das mulheres,
retira-nos dos nossos lugares conquistados com a redemocratização do
país. Reduzir a nossa autonomia de ministério, subjugando-nos a
construir uma gambiarra institucional, é reprimir a repercussão
democratizante da igualdade no conjunto das relações sociais em todo
território nacional. Esta é a motivação das forças retrógradas que
defendem e exigem o fim destas políticas, mas essa execução não pode ser
carimbada pela senhora. Hoje, a justificativa é a crise econômica. Em
outros tempos, eram outros os argumentos; o desejo e a ética que os
regem, continuam os mesmos.
É
preciso coragem, determinação e resistência para enfrentar essas forças
que há séculos oprimem e exploram as mulheres, as populações não brancas
e as minorias políticas. É com coragem, determinação e resistência que a
sociedade civil permanece lutando para garantir representação dentro
dos governos, no sentido de que suas questões sejam escutadas e
contempladas pelas políticas públicas.
Presidenta,
a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
(SPM-PR), assim como a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial
(SEPIR), são resultados de séculos de lutas sociais protagonizadas pela
maioria da população. Os sujeitos políticos dessas conquistas são
aliados, são irmãos na vivência cotidiana da violência opressora, mas
fizeram a escolha política de enfrentar suas discriminações,
constituindo-se em sujeitos independentes entre si, ou seja, titulares
de causas específicas. Sua entrada no aparato do Estado, sua
participação efetiva na governança, portanto, a sua inserção nas
instâncias de decisão da administração pública deve preservar e definir
de forma específica espaços, atribuições, e recursos. Dessa forma, nada
pode tirar de cada um desses segmentos o direito à autoria de suas lutas
e de reafirmarem suas causas, exigindo o quinhão que lhes cabe dentro
do governo, isto é, um ministério especializado.
É
incoerente e desanimador que este protagonismo seja negligenciado,
especialmente neste momento em que consolidamos avanços e, através das
Conferências de Políticas Públicas para as Mulheres que acontecem em
todo o país, nos referendamos e nos fortalecemos no firme propósito de
alcançarmos “Mais direitos, participação e poder para as mulheres”,
conforme tema pautado pela Conferência Nacional, convocada pela
Presidência da República e coordenada pelo Conselho Nacional dos
Direitos das Mulheres e pela SPM-PR.
Por
tudo isso, nós, gestoras de Políticas Públicas para as Mulheres de
Pernambuco, em âmbito municipal e estadual, reafirmamos o nosso
compromisso com a continuidade deste trabalho e exigimos do Governo
Federal um posicionamento em consonância com a construção de um país
mais justo e igualitário.
Neste
perigoso cenário político para a democracia e o desenvolvimento do país,
é inaceitável que haja retrocessos nesse campo, principalmente que a
primeira mulher presidenta do Brasil entre para a história como a
responsável pela extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República.
Assinam esta carta:
Secretaria da Mulher de Pernambuco
Fórum de Gestoras Municipais de Políticas para as Mulheres da RMR, e dos municípios de Goiana, Caruaru, Garanhuns e Petrolina
Fórum de Gestoras Municipais de Políticas para as Mulheres da Zona Canavieira
Fórum de Gestoras Municipais de Políticas para as Mulheres do Semiárido
Nenhum comentário:
Postar um comentário